Distúrbios do Movimento na Paralisia Cerebral
Dra Patricia Dumke da Silva Möller
Neurologista Infantil em Brasília
CRM-DF 19.476 | RQE 15.936
Distúrbios do Movimento na Paralisia Cerebral
A paralisia cerebral (PC) é um conjunto de distúrbios que afetam o movimento e a postura, impactando a capacidade de realizar atividades diárias. Esses distúrbios surgem por danos não progressivos no cérebro em desenvolvimento, que tenham ocorrido antes, durante ou logo após o nascimento.
Além das dificuldades motoras, a PC pode estar associada a outros desafios, como problemas de sensação, percepção, cognição, comunicação, comportamento, epilepsia e condições musculoesqueléticas.
Os distúrbios do movimento são uma característica central da paralisia cerebral, impactando significativamente a qualidade de vida das crianças e suas famílias. Compreendê-los é essencial para buscar tratamentos adequados e melhorar a autonomia, o conforto motor e a qualidade de vida dessas crianças.
Principais Movimentos Involuntários na Paralisia Cerebral
Espasticidade
Este é o tipo mais comum de distúrbio do movimento na paralisia cerebral. Caracteriza-se por um aumento do tônus muscular que ocorre quando o músculo é rapidamente movimentado. Pode dificultar os movimentos voluntários e causar desconforto, diminuindo a mobilidade, mas também causando dor e deformidades.
Distonia
Caracteriza-se por posturas lentas e repetitivas, que podem ser desencadeadas por emoções, toque, dor ou estresse, e aliviam-se no sono. Esses movimentos são mais evidentes quando o indivíduo está sob estresse, dor ou excitação. A distonia pode se manifestar de forma sutil, com posturas discretas, ou de maneira mais ampla, causando movimentos significativos que podem levar a luxações ou fraturas. A dor, o sono interrompido e o gasto calórico excessivo são comuns.
Coreoatetose
Caracterizada por movimentos irregulares e imprevisíveis, fluidos ou bruscos, que se deslocam de uma parte do corpo para outra. Esses movimentos são involuntários e podem ser parcialmente disfarçados pelas ações voluntárias, mas não podem ser suprimidos voluntariamente. Assim como a distonia, eles aumentam com emoções e toque, mas aliviam durante o sono.
Discinesia: Termo usado quando há excesso de movimentos em geral, mais comumente uma combinação de distonia e coreoatetose.

A maioria dos pacientes com paralisia cerebral apresenta uma combinação de movimentos, mais comumente espasticidade e distonia.
Importância da Diferenciação e Impacto dos Movimentos Involuntários
A diferenciação entre os movimentos involuntários nem sempre é fácil, especialmente entre espasticidade e distonia. Embora a maioria dos casos de paralisia cerebral apresente espasticidade e distonia associadas, cada um pode exigir tratamentos diferentes. Por exemplo, enquanto relaxantes musculares como o baclofeno podem ser úteis para ambos, existem medicamentos específicos para distonia que não são utilizados para espasticidade.
Os distúrbios do movimento podem ter um impacto significativo na vida diária das crianças com paralisia cerebral. As complicações mais comuns são dor, deformidades, gasto calórico excessivo e problemas de sono. O tratamento precoce é fundamental para prevenir essas complicações e otimizar a funcionalidade.

É comum que seja preciso associar várias intervenções, entre terapias não farmacológicas e uma combinação de medicamentos, sempre mantendo a reabilitação.
A avaliação continuada dos distúrbios do movimento é fundamental para o desenvolvimento de um plano de tratamento eficaz. Ferramentas como o Gross Motor Function Classification System (GMFCS) ajudam a classificar a gravidade do comprometimento motor, orientando as intervenções apropriadas. Além disso, é importante investigar fatores reversíveis que possam exacerbar os movimentos, como dor, constipação, refluxo gastroesofágico ou alterações dentárias.
Opções de Tratamento para Distúrbios do Movimento na Paralisia Cerebral
O tratamento dos distúrbios do movimento na paralisia cerebral é essencial para melhorar a qualidade de vida das crianças, abordando questões como dor, dificuldade de ganho de peso, posicionamento inadequado, problemas de sono, prevenção de deformidades e dificuldade de higiene.

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Terapias Físicas e Ocupacionais
A reabilitação motora, especialmente em fisioterapia e terapia ocupacional, é a base do tratamento dos distúrbios do movimento e deve ser contínua. Ela é fundamental para promover o desenvolvimento motor. O foco é na mobilidade, participação e prevenção de complicações como escoliose e deslocamento do quadril.
Conforme o caso, são associados à reabilitação os demais tratamentos, que com frequência precisam ser usados de forma combinada.

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Tratamentos Farmacológicos
1. Relaxantes Musculares: Medicamentos como baclofeno e benzodiazepínicos (principalmente clonazepam e diazepam) são frequentemente utilizados para tratar tanto a espasticidade quanto a distonia. Eles ajudam a reduzir o tônus muscular, melhorando a mobilidade e o conforto.
2. Medicamentos Específicos para Distonia: Existem medicamentos que são mais eficazes para distonia, como triexifenidil, biperideno e clonidina. Esses medicamentos podem ajudar a controlar os movimentos involuntários e melhorar a qualidade de vida.
3. Toxina Botulínica: Utilizada para tratar espasticidade, distonia e dor. Aplicada por meio de injeções intramusculares, com relaxamento dos músculos aplicados que dura de 3 a 6 meses. Na paralisia cerebral, é o tratamento medicamentoso mais eficaz e com mais evidências de benefícios na espasticidade e na distonia.

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Estimulação Cerebral Não Invasiva
Essa técnica envolve o uso de dispositivos que aplicam estímulos que chegam ao cérebro e modulam a atividade neuronal. A Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua é mais utilizada em crianças e utiliza estímulos elétricos; já a Estimulação Magnética Transcraniana utiliza campos magnéticos e é mais indicada em adolescentes e adultos. Ambas são aplicadas periodicamente em sessões e não envolvem dor ou outro desconforto significativo.
Intervenções Neurocirúrgicas
As intervenções invasivas podem ser consideradas após cuidadosa avaliação da equipe em casos de difícil controle, e não substituem os demais tratamentos já mencionados, que devem ser mantidos após a cirurgia.
Estimulação Cerebral Profunda (DBS)
Este procedimento cirúrgico pode ser considerado para casos graves de distonia. Um dispositivo (popularmente chamado de "marcapasso cerebral") é implantado no cérebro para ajudar a regular os sinais nervosos que causam os movimentos involuntários. Após a cirurgia, o neurologista regula periodicamente por meio de um computador os estímulos enviados ao cérebro.
Bomba de baclofeno
Utilizada para tratar espasticidade e/ou distonia graves. Insere-se um pequeno reservatório que libera baclofeno lentamente no líquido que circunda o cérebro.
Palidotomia
Outra opção cirúrgica para distonia severa, a palidotomia envolve uma lesão microscópica em uma pequena área do cérebro para reduzir os sintomas.
Rizotomia Dorsal Seletiva
Usada em casos de espasticidade avançada. Envolve o corte de alguns nervos próximos à coluna que controlam os sentidos e os movimentos dos membros.
É importante lembrar que o tratamento deve ser individualizado, levando em consideração a gravidade dos sintomas e o impacto na qualidade de vida da criança. Nem todos os tratamentos são adequados para todos os casos.
A jornada para lidar com distúrbios do movimento na paralisia cerebral exige atenção e planejamento.
O tratamento deve ser individualizado e sempre reavaliado, combinando diferentes abordagens para alcançar o melhor conforto motor e autonomia possíveis.
Ouse ir além.
Sempre há o que melhorar.
Dra Patricia Dumke da Silva Möller
Neurologista Infantil em Brasília
CRM-DF 19.476 | RQE 15.936
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